1ª Leitura: Joel 2,12-18
Salmo 50 (51)
2ª leitura: 2Coríntios 5,20-6,2
Evangelho: Mateus 6,1-6.16-18
“É agora o momento favorável, é agora
o dia da salvação!” (2Cor 6,2)
Na
liturgia de hoje, iniciando o tempo sagrado da Quaresma, oportuníssimo à
reflexão sobre nossas práticas pessoais, à interioridade e à conversão, assim
pedimos ao Senhor pela boca do presidente da celebração: “que a penitência nos
fortaleça no combate contra o espírito do mal” (oração do dia). Perguntemo-nos:
que penitência pode nos fortalecer? E que espírito maligno combateremos?
O
Santo Evangelho segundo Mateus cita as três importantes práticas penitenciais
do cristão, que, a seu tempo, eram também muito caras aos fariseus: a esmola, a
oração e o jejum (e a intenção do evangelista ao escrevê-lo era justamente
associar as tradições do povo judeu a Jesus de Nazaré e mostrar que ele as leva
à plenitude). Jesus alerta que estas práticas não se servem à exaltação de quem
as realiza, mas à honra do Pai. Por isso diz: “não toques a trombeta diante de
ti, como fazem os hipócritas” (Mt 6,2). Quando um cristão jejua, reza ou faz
obras de caridade, o que se faz importante é que tenha o coração voltado para
Deus e desejo sincero de servir aos irmãos. Em Deus deve estar sua motivação
para tal e não seu próprio ego. A penitência feita neste nível reverterá ao
fiel fortalecimento espiritual e riqueza interior.
Deste
modo, cabe-nos pensar na qualidade das práticas penitenciais evidenciadas
quando as fazemos. Dar esmola não significa apenas dar coisas a alguém quando
este no-las pede, aliviando assim nossa consciência, mas implica
comprometimento, oblação, emprego de esforços, consideração integral para quem
precisa de nós e que é nosso semelhante; também orar não deve ser uma ação que
contemple tão somente as nossas necessidades, senão também as daqueles que nos
rodeiam e deve nos capacitar para melhor servir; e, por fim, o jejum, indicado
para hoje, deve ser oportunidade de progresso na intimidade com Deus e
avaliação da nossa conduta como cristãos, sobretudo no que tange à partilha do
que temos.
Talvez
o espírito do mal que pedimos hoje a Deus força para combater e que se mais
dificultoso fazê-lo seja tudo aquilo que está relacionado ao fechamento em nós
mesmos: auto-
suficiência,
egoísmo, individualismo, falsidade, espírito de senhorio e de competição,
ambição, orgulho. Estes aspectos às vezes estão tão entranhados na nossa
humanidade e se manifesta em coisas tão pequenas que sequer os percebemos.
Somos, porém, convidados a estarmos atentos e vigilantes, pois eles não são
compatíveis com o Cristo que nos salvou! São Paulo, na sua segunda carta aos
coríntios, que nos serve hoje de segunda leitura, nos fala a este respeito: “Aquele
que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos
tornemos justiça de Deus” (5,21). E acrescenta: “Como colaboradores de Cristo,
nós vos exortamos a não receberdes em vão a graça de Deus” (6,1). Em outras
palavras, podemos dizer: Jesus, o Cristo de Deus, quis a nosso favor
esvaziar-se de sua glória, tornando-se um de nós. Ele nos libertou do pecado e
conta conosco para exalar seu bom odor onde estivermos. Somos frágeis,
vacilantes, pecadores. Ele o sabe! Porém temos agora um tempo favorável e sua
graça abundante para que possamos esvaziar-nos de nós mesmos a favor d’Ele
pelos nossos irmãos. Não estamos sós! O Senhor nos acompanha pelo seu Espírito
Santo que age em nós e nos habilita para sermos d’Ele.
Acolhamos
com carinho, também o tema proposto para a Campanha da Fraternidade deste ano:
Fraternidade e Tráfico humano. Empenhemo-nos pela reflexão sobre ele, buscando
sermos todos solidários com aqueles que são objeto deste problema tão sério e
que se agrava sempre mais em nosso país. Participemos ativamente das ações em
prol de seu combate em maior (o problema nacional em si) ou menor nível
(exploração, injustiças, opressão, tão presentes em nosso dia-a-dia). Em tudo
estará em jogo a dignidade do nossos irmãos e irmãs, pois “é para a liberdade
que Cristo nos libertou” (Gl 5,1). Todos somos filhos de Deus e de ninguém
escravos. O ser humano não pode ser usado como mercadoria ou meio de lucro para
alguns.
Voltemo-nos
ao Senhor, “rasgando o coração”! “Ele é benigno e compassivo, paciente e cheio
de misericórdia” (Jl 2,13). Que este período tão propício seja permeado não de
exterioridades vazias, mas de interioridades sinceras e frutuosas que nos façam
mais parecidos com Jesus Cristo. A transformação das realidades más que presenciamos
começam com nossa conversão. Uma abençoada Quaresma para todos nós!
Sem. Weverson
Almeida
4º Teologia