Continuamos a reflexão
sobre a celebração do Sacramento do Matrimônio. Vimos o contexto sociocultural
em que, hoje em dia, a celebração acontece e os novos desafios que ela
comporta. Acrescentamos que, às vezes, sobretudo em ambientes de maior tradição
católica, o Sacramento pode ser procurado mais por habito religioso e cultural
do que por uma madura motivação de fé. Em alguns casos, como releva o documento
de preparação para o próximo Sínodo, existe uma verdadeira ‘crise de fé’ que se
reflete, também, nas escolhas importantes da vida e na vida matrimonial.
O documento do
Concílio que fala da liturgia – Sacrosanctum
Concilium (SC) – ainda em 1963 - observava
que a liturgia exige um ‘antes’, isto é, uma preparação para compreender o que
se celebra. E não basta entender o que se faz de um ponto de vista humano e
social; tudo isso é importante e necessário, mas, para a celebração de um
sacramento é necessária uma experiência de fé. Se essa faltar, eis que os
enfeites vão substituir e cobrir a escassa compreensão religiosa ou o vazio espiritual.
A esse respeito, apresentando a II
edição do Rito do Matrimônio para o Brasil, o saudoso Dom Clemente Isnard,
responsável pela dimensão litúrgica da CNBB, escrevia: “Sabemos que as celebrações
do Matrimônio, especialmente de classe média e alta, estão sendo um verdadeiro
problema para nossa consciência sacerdotal, máxime no confronto entre o luxo
com que se reveste e a estabilidade do lar que então é fundado”.
Observava isso em 1993; de lá pra cá,
pela minha experiência, a realidade não melhorou, antes, complicou-se! Então,
eis a necessidade de intensificar a formação humana e espiritual dos jovens, para
ajuda-los a entender o sentido do casamento, sobretudo em sua dimensão
religiosa e cristã; então, poderão escolher a celebração litúrgica sabendo o
que significa e comporta um ‘Sacramento’ da Igreja e, de modo especial, o
Matrimônio como ato de fé da Igreja. A nossa Igreja, por sua parte, sensível às
mudanças ocorridas e que estão ocorrendo, nos últimos 50 anos, reformou também
a celebração da liturgia desse sacramento.
“O Concílio
Vaticano II, além de falar amplamente da realidade matrimonial na Gaudium et Spes, expressou sua vontade
de reformar o rito na SC” (cf. Fernández, p. 267).SC pedia: “Deve-se revistar e
enriquecer o rito da celebração do Matrimônio que se encontra no Ritual Romano,
de modo que se expresse a graça do Sacramento e se inculquem os deveres dos
esposos com maior clareza”.
A partir do que o Concílio pediu, eis
que, em 1969, depois de quatro intensos anos de trabalho, saiu a primeira
edição do novo Rito do Matrimônio que, em 1990, apareceu na segunda edição, amplamente
enriquecida.
Para compreender as propostas feitas
pela reforma conciliar, é preciso ter ao menos algumas informações sobre a
história, e ainda, a pré-história desse sacramento. Assim, poderemos apreciar e
celebrar melhor este sinal do amor do Senhor na e para a vida de um homem e uma
mulher que, pela “aliança matrimonial, constituem entre si uma comunhão para
toda a vida” (cf. Ritual 1 = Código cân. 1055). Quando acaba a celebração,
começa a vida matrimonial e o Matrimônio é ‘um sacramento permanente’ que
“implica a convivência, a unidade, a fidelidade, a frutificação, o amor
matrimonial permanente” (Boróbio, p. 418). Retomaremos todos esses aspectos.
Dom
Armando