Salmo
4;
1 João 2,1-5;
Lucas 24, 35-48.
Entre as três leituras e o salmo da liturgia deste III domingo da
Páscoa existe uma ligação. Duas palavras unem os quatro textos bíblicos: pecado
e conversão.
No Evangelho, ouvimos Jesus dizer aos
seus amigos, depois de ressuscitado: Assim está
escrito: ‘O Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia, e no
seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as
nações, começando por Jerusalém’. Vós sereis as testemunhas de tudo isso. São as
últimas palavras de Jesus antes de sua despedida desta terra, e o ‘testamento’ no qual Ele define o essencial da missão entregue aos discípulos.
O apóstolo Pedro – I leitura - no dia do Pentecostes, prega
denunciando abertamente o povo: Vós
matastes o autor da vida; logo, como justificação, acrescenta: eu sei que vós agistes por ignorância, assim como vossos chefes; agora, porém: arrependei-vos, e convertei-vos, para que vossos pecados sejam
perdoados. Com
a vitória sobre a morte, é uma nova relação que Deus pretende instaurar com a
humanidade. Por isso, a misericórida e o perdão de Deus sobressaem, oferecendo
uma possibilidade de vida nova em Jesus, o Ressuscitado.
O apóstolo João – II leitura – escrevendo aos seus
cristãos, recomenda: Meus filhinhos, escrevo
isto, para que não pequeis. No entanto, se alguém pecar, temos junto do
Pai um Defensor, Jesus Cristo, o Justo.Ele é a vítima de expiação pelos nossos
pecados.
O Salmo, também, contém uma palavra
com que se invoca a possibilidade de ‘voltar ao Senhor’, num momento de
dificuldade: Sobre nós fazei brilhar o esplendor da
vossa face... pois só vós, ó Senhor Deus, dai segurança à minha vida.
Compreender a pessoa de Jesus e sua mensagem é possível somente
com a luz de Deus, aquela luz que resplandeceu no rosto de Cristo. O esplendor da face de Deus nos permite
compreender o sentido do que fazemos, o que dá sentido à vida e qual seu rumo
certo. Quem quiser ser amigo de Jesus, com sua vida, deve testemunhá-Lo. Para
isso, é necessário tirar a ignorância
do coração, aquela que determinou a morte de Jesus e continua sendo causa de
tantas ‘mortes’, exclusões, juizos injustos e fáceis condenações contra irmãos
e irmãs que caminham conosco.
A falta dessa luz foi a
causa daquilo que os judeus fizeram com Jesus, decretando a morte do Filho de
Deus. A falta de luz torna os
discípulos incapazes de reconhecer Jesus e de compreender que tudo o que Ele tinha feito foi por vontade do Pai. Jesus deve abrir a mente deles para que consigam entender as Escrituras.
Por ignorância, os judeus pensavam fazer coisa boa matando a
Jesus. Hoje em dia, muitos se acham justos, porque frequentam a igreja, dão o
dízimo, rezam algumas orações e... alguém anda dizendo: ‘eu não faço mal a
ninguém, não mato, não roubo, não traio... Então, o que me falta’?
Na II leitura, o apóstolo João fala de observar os mandamentos. Entende todos, não só alguns. Em seguida,
dirá que o mais importante é o mandamento de amar a Deus e ao próximo. Então, como alguém pode dizer que é um ‘bom cristão’ se a sua
oração não for um encontro cotidiano com o Senhor, se os sacramentos
(confissão, eucaristia) não fazem parte de sua vida como exigência de encontro
com o Senhor? Como podemos dizer que somos bons cristãos se não alimentarmos a
fé com a meditação da Palavra, se em nosso trabalho cotidiano não agirmos com
respeito e disponibilidade, com amor para com os outros, se não cuidarmos da
família com carinho, paciência e fidelidade? E como ser fiéis seguidores de Jesus
se não formos sinceros nas relações humanas, humildes e generosos de coração?
Se não agirmos como cidadãos honestos e justos, que não ‘aproveitam’ da função
ou das ‘amizades’ para tirar vantagens?
Pedimos
ao Senhor que nos ilumine e nos dê a graça da sinceridade e humildade, conosco
mesmos, antes de tudo, para podermos reconhecer os nossos pecados e, confiando
na infinita misericórdia de Deus, acolher a sua Palavra de bondade e seu
convite à conversão.
Dom Armando