Terminando
a apresentação das oferendas, o Presidente da celebração lava as mãos. Lavar as
mãos é gesto que repetimos tantas vezes no mesmo dia. Na liturgia, esse gesto é
antigo. Seu início se deve à necessidade de lavar as mãos depois de ter
recebido dos fiéis os dons, ‘fruto da terra e do trabalho humano’. Mas, na
liturgia, permanece com um sentido mais profundo, qual expressão de uma
constante purificação interior, sobretudo de quem é chamado a presidir a
Eucaristia, “sacrifício (oferecido) para glória do Seu nome, para nosso bem e
de toda a santa Igreja”.
Com
esse gesto, o ministro convida todos que participam da celebração para, eles
também, entrarem em comunhão íntima e transparente com o Senhor e terem mente e
coração abertos para acolher o mistério divino. Depois da escuta da Palavra, o
pão e o vinho oferecidos, pela ação do Espírito Santo, tornam-se vivos sinais
do que fez Jesus em sua Ceia derradeira, quando, nesses elementos naturais,
encerrou sua entrega por amor.
Na
liturgia da Igreja, temos também o lava-pés.
O evangelista João - no capítulo13 do evangelho - recorda o que fez Jesus no
início da última Ceia. Jesus começa fazendo algo que provocou a forte e sincera
reação de Pedro e - podemos imaginar - a maravilha dos demais discípulos. De
fato, como podia o Mestre e Senhor lavar os pés? Isso pertencia aos servos ou
aos escravos! Então, por que Jesus fazia isso? Jesus nada fez para se mostrar
ou chamar a atenção sobre si. Então, o que queria ensinar? Aos seus escolhidos
para algum serviço, queria ensinar o que significa servir. A vida toda de Jesus
foi marcada por essa atitude. Servir – compreendam-no seus amigos - comporta
colocar o avental e não tirá-lo mais. E, para que fique claro o sentido do que
fez, Jesus acrescenta uma clara explicação: ... Se eu lavei os pés de vocês, vocês também devem fazer o mesmo! O
ensinamento está claro e é muito exigente. Seu sentido é totalmente
compreensível, apesar de, tantas vezes, ficar incompreendido ou esquecido.
Deixar-se
lavar os pés, também, tem sentido. De fato, a salvação é dom, vem de alguém. Na
vida, cada um precisa da ajuda dos outros. É preciso deixar, em atitude
humilde, que o outro lave os nossos pés. A incompreensão de Pedro é muito
significativa, apesar de encontrar na história bíblica exemplos significativos.
Refiro-me, por exemplo, a Abraão que acolheu os misteriosos hóspedes lavando os
pés deles (cf. Gn 18,4).
Jesus
nos deixou um claro sinal de amor e de serviço. Ele veio morar entre nós e dar
sua vida por nós. A carta aos Filipenses (2,6-8) afirma que Ele, existindo em forma divina...
despojou-se, assumindo a forma de escravo... humilhou-se, fazendo obediente até
a morte – e morte de cruz.
Acolher
Jesus e seu projeto comporta imitá-lo na doação de si e no serviço a todos que
estão precisando de amor sincero, humilde e fraterno: Amem-se uns aos outros como eu amei vocês, isto é, ‘coloquem-se
humildemente ao serviço dos irmãos até o ponto mais alto, que pode conduzir até
o dom da vida’.
No
livro que testemunha a caminhada do peregrino
russo, lê-se: “Meus hóspedes, um casal idoso, fizeram-me sentar, o homem
colocando-me faixas para meus pés machucados e a mulher os chinelos. No início,
eu não queria, mas eles me disseram: ‘Fique sentado e calado, o Cristo lavou os
pés de seus discípulos’. Eu não consegui resistir e comecei a chorar, e eles
também choravam”.
Dom
Armando