16º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Leituras:
Gênesis 18, 1-10a;
Salmo 14;
Colossenses 1,24-28;
Lucas 10,38-42.

“Felizes os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática”, disse Jesus (Lc 8,23). Hoje, o evangelho nos apresenta uma mulher, de nome Maria, que escuta Jesus, como pendendo de seus lábios. Essa mulher, tem a ousadia de ser discípula, numa cultura em que só os homens podiam sê-lo. Jesus a elogia e a defende até de Marta, a irmã mais velha, que, chateada, reclama com Jesus pelo fato que ele aceita que a irmã mais nova fique escutando-o e não a ajude nos muitos afazeres que a acolhida comporta.
Na casa de Betânia, pequeno povoado perto de Jerusalém, Jesus encontra acolhida e hospedagem. Aqui, um dia, ele restituirá a vida ao amigo Lázaro ‘morto havia quatro dias’(cf. Jo 11,39). Hoje, Lucas nos convida a contemplarmos a cena de encontro, da acolhida e da escuta. São as expressões do discípulo de Jesus. O que acontece a toda celebração litúrgica. Quando a comunidade se  reúne, deve, acima de tudo, escutar a Palavra, pender dos lábios da Palavra proclamada; de fato, é  o mesmo Jesus, Palavra do Pai, que fala ao seu povo.
Acolher os hóspedes é gesto sagrado. Documenta-o Abraão (I leitura) que acolhe os três personagens desconhecidos que chegam até ele, enquanto ‘está sentado junto ao carvalho de Mambré’. Não os conhece, não sabe quem são nem de onde vieram. Mas... acolhê-los é gesto espontâneo e sagrado. A recompensa, não procurada nem esperada, virá: “No ano que vem, Sara, tua mulher, já terá um filho”. Deus nunca se deixa vencer em generosidade. Disso Abraão faz experiência várias vezes ao longo de sua vida.
“Morar na casa do Senhor” não é, antes de tudo, uma questão material. Comporta um estilo de vida segundo e seguindo o Senhor, isto é, “caminhar sem pecado, praticar a justiça fielmente, não soltar calúnias, não prejudicar o irmão nem cobrir de insultos o vizinho, não emprestar dinheiro com usura nem aceitar suborno” (cf. Salmo). Quem viver segundo esse ‘estilo de vida’, coerente com a fé, terá a postura certa para também acolher os irmãos. O gesto litúrgico, então, não será pura formalidade desligada da vida; ao contrário, a celebração litúrgica terá (é chamada a ter) um impacto transformador quando ela inspirar e orientar a vida cotidiana.
Maria de Betânia que, como destaca o evangelista, escuta Jesus e se torna discípula é modelo do que comporta acolher Jesus. É uma acolhida transformadora. À escola de Jesus se aprende a viver de forma diferente. Não significa ficar de braços cruzados, não. Marta tem uma tarefa importante, as obras e a solidariedade concreta para com os necessitados serão o critério do juízo na prova final (cf. Mt 25,31-46). Mas... amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração(cf. Lc 10,26)! O primeiro em absoluto é Ele; Ele nos salva pela sua misericórdia e não pelas nossas boas obras; Ele nos amou quando ainda éramos pecadores (cf. Rm 5,8). Antes e acima de tudo, é Jesus que define os critérios do bom agir; amar é resposta Àquele que nos amou por primeiro. Escutá-lo, então, demorar aos seus pés para beber à fonte de Sua palavra, torna-se indispensável para sermos seus verdadeiros discípulos que sabem amar ‘do jeito certo’. Encontrar os gestos concretos ao amar, será consequência e coerente exigência desse amor.
Por isso, na Oração do dia pedimos a Deus de ‘ser generoso’ conosco e de multiplicar ‘os dons de sua graça’, assim, “repletos de fé esperança e caridade, guardaremos fielmente seus mandamentos”, o do amor em primeiro lugar.
Perguntemo-nos:
1. Qual espaço e quanto tempo dedicamos à escuta da Palavra e à oração?
2. Como acolhemos os outros – os ‘diversos, também – em nossa vida?
3. A participação na liturgia influencia e anima a nossa vida do dia-a-dia?

Dom Armando