Hoje, vamos refletir
sobre ‘ritos e rituais’. O que é um rito? Responde o autor de O
Pequeno Príncipe, livro sempre atual
e bonito, no diálogo entre a raposa e o pequeno príncipe. É preciso usar ritos,
diz a raposa. ‘Mas, o que é um rito’, pergunta o pequeno príncipe. Então, a
raposa explica: “O rito é assim: ‘se você, por exemplo, vem ao meu encontro sempre,
às quatro da tarde, antes, desde cedo, eu começo me preparar, e meu coração
fica palpitando, esperando por você, até chegar a hora do nosso encontro, e fico
em ânsia pela sua chegada”.
Na vida, nós
vivemos seguindo muitos ritos, precisamos de ritos, quando encontramos um
amigo, ou preparamos uma festa ou nos despedimos de um ente querido que foi
embora deste mundo.
O rito é uma ação programada. A palavra vem de uma raiz indo -
europeia, R’tam, que significa ordem
(da mesma provêm: arte, aritmética, ritmo).
“O rito visa intencionalmente para um efeito” (A. Vergote); dá segurança,
protege contra o imprevisto. Ainda, é ação repetitiva. Age no
inconsciente humano. O antropólogo Levi-Strauss escreve que os ritos constituem
“o meio para tornar perceptíveis de imediato certo número de valores que
tocariam menos diretamente a alma se a gente se esforçasse por fazê-los
penetrar com meios unicamente racionais”.
Num
rito, precisamos sentir, tocar, compreender, ver e ser totalmente voltados para
o oculto, isto é, para aquilo que nos
supera e guarda em si uma força de mistério: o sentido da vida e do destino
humano, o divino, a sociedade, os outros, Deus. O rito expressa a busca
constante de um encontro com algo, ou Alguém que está sempre além, que
continua escapando de nossas mãos e que nunca conseguimos alcançar, porque é
algo diferente do nosso ‘eu’.
Portanto,
podemos dizer que os ritos são gestos
e palavras que exprimem e configuram uma ação sagrada ou socialmente
significativa, que visa a facilitar a comunicação e a integração entre as
pessoas e com a divindade. O rito é ação repetitiva, de caráter individual ou social, que
segue algumas regras; ele contém um sentido interior dado ou aceito por quem o
expressa, indivíduo ou grupo.
Apesar do progresso
científico, o ser humano continua sendo um mistério a si mesmo, e poucos
fenômenos conseguem nos revelar a nós mesmos como o símbolo e o rito, a
religião e a arte. Estes ‘caminhos’ conduzem para um ‘além’, do qual, talvez,
conheçamos o começo, mas não o término. Por exemplo, o símbolo de uma flor: sabemos onde começa, mas não onde termina seu
efeito!
O
mistério do rito, com a repetição dos gestos, compromete o futuro de uma
história desconhecida: ex. no batismo e no casamento! O mistério da arte: com poucas coisas, abre para o
inesgotável da contemplação e da emoção; ex. uma pintura, uma música. O
mistério da religião: reúne pessoas
diferentes e as conduz rumo ao mistério do infinito
de Deus!
Rito e símbolo pertencem ao não-produtivo, à gratuidade do
coração e do espírito, ao inútil da
vida humana. Colocam-se na dimensão do ser e não do ter ou do ‘produzir’! Dessa
forma, a pessoa, através do símbolo e do rito, manifesta um novo modo de ser,
em uma outra dimensão. A gratuidade é criadora! Escutar uma música, contemplar
uma obra de arte ou uma paisagem, ler ou escrever uma poesia, cultivar flores
ou dar um presente, como o ‘perder tempo’ para celebrar... é algo que parece
‘tempo perdido’, numa sociedade que exalta o produzir. Mas, realmente, todo
esse mundo do ‘gratuito’ faz crescer na dimensão profunda do próprio ser, onde
a pessoa se encontra consigo mesma e se torna mais humana.
Dom Armando