Leituras:
Amos
6,1ª.4-7;
Salmo145
(146), 7.8-10;
Hebreus
11,1-2.8-19;
I
Timóteo 6,11-16;
Lucas
16,19-31.
O uso dos bens
materiais é questão que aparece tantas vezes nos ensinamentos de Jesus. O
sentido que damos a esta vida, e também nossa vida futura, dependem disso: como
nos relacionamos com os bens deste mundo. Uma pergunta: eles são servidores nossos
ou são tão importantes que nos dominam?
Domingo passado
Jesus convidava a “usar o dinheiro injusto para fazer amigos” (Lc 16,9) e alertava:
“Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. Hoje, Ele continua demonstrando o
fracasso de um homem (anônimo) que viveu esbanjando, mas insensível (que nem
cachorro) à miséria de um pobre (que tem nome: Lázaro, que significa: ‘Deus tem
ajudado’).
A cena é
apresentada com cores muito vivos; o rico, diz o evangelista Lucas “vestia de
roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias”, enquanto, “Lázaro, cheio de feridas, no chão
à porta do rico” esperando que da mesa caiam as sobras. Mas logo acontece uma radical
inversão da situação. O encanto acabou para o primeiro e a felicidade agora
envolve a vida do segundo. E, entre os dois, já não existe alguma ponte; cada
um, agora, recebe o que construiu em sua vida terrena; nem uma gota de água
pode ser mandada ao cara que morre de sede nem é possível mandar recados de
ameaçadora perdição aos irmãos que continuam vivendo nas ilusões: se quiserem
“escutem a Moisés e aos profetas”!
A mensagem de
Jesus contrasta decididamente com as ideias da ‘teologia da prosperidade’ que
reinava na época e que considerava a prosperidade qual bênção de Deus, enquanto
pobreza e doença eram vistas como rejeição (será que ainda tem quem pensa desse
jeito?). O critério de salvação proposto por Jesus com grande clareza é o do
amor, da solidariedade e da justiça; fora disso, não tem salvação. A vida
humana, que terá sua plena realização “na ressurreição dos mortos”, desde já começa
ter sentido se e quando iluminada e animada pelo amor ao próximo, sobretudo
para com os mais necessitados. É o constante ensinamento de Jesus e dos
profetas.
Na I leitura
o profeta Amós, no 8º século antes
de Cristo, alertava “os que dormem em camas de marfim, deitam-se em almofadas,
comendo cordeiros do rebanho... os que cantam ao som de harpas... e não se
preocupam com a ruína de José”. Uma ameaça incumbe sobre eles: “irão agora para
o desterro”. Deus não pode aceitar a insensibilidade de coração desses
privilegiados. De fato, canta o Salmo, “o Senhor faz justiça aos que são
oprimidos, ele dá alimento aos famintos, liberta os cativos, abre os olhos aos
cegos... protege o estrangeiro, ampara a viúva e o órfão”.
A Palavra de
Deus é sempre viva e atual. Jesus fala alto também à sociedade de hoje e a cada
um(a), sobretudo aos que pretendem segui-Lo, a nós que nos chamamos de
‘cristãos’.
Recentemente, na ilha de Lampedusa (Itália) o papa Francisco usou
palavras duras para denunciar a “globalização da indiferença” e disse que “Deus
nos julgará segundo o modo como nós tratamos os mais necessitados”. E o papa
ainda afirmou: “A cultura do bem-estar que nos leva a pensar só em nós mesmos,
torna-nos insensíveis aos gritos dos outros”; uma verdadeira “anestesia do
coração”.
Concluindo sua
carta ao discípulo Timóteo, o apóstolo Paulo (II leitura) recomenda: “Tu
que és homem de Deus, foge das coisas perversas, procura a justiça, a piedade,
a fé, o amor, a firmeza, a mansidão”: vale para nós todos, também.
A todos e todas
desejo um bom Domingo, no Senhor Jesus ressuscitado dos mortos.
Dom Armando