2 Samuel 5,1-3;
Salmo 121;
Colossenses 1,12-20
Lucas 23,35-43
Celebramos hoje – último domingo do Ano
litúrgico – a solenidade de Jesus Cristo, Senhor
e Rei do Universo. Concluímos, também, junto com o Ano litúrgico, o Ano da
fé que, proposto pelo Papa Bento XVI – começou no dia 11 de Outubro,
comemorando os 50 anos do início do Concílio Vaticano II. Neste domingo, ainda,
a Igreja dedica destaca a presença e atuação dos cristãos leigos e das cristãs
leigas na Igreja.
Finalizando o ano litúrgico temos vários
motivos para louvar e agradecer ao Senhor por tantos dons que d’Ele recebemos.
Também é preciso avaliar quais frutos conseguimos produzir ao longo do ano que
passou. A Eucaristia que acompanha e sustenta nossa caminhada de fé, não é só memória do passado, mas memorial, isto é, atualização de
salvação através das celebrações que nos proporcionam a possibilidade de participarmos
da salvação realizada pela morte e ressurreição de Jesus. O Ano litúrgico nos
dá essa possibilidade de mergulharmos no mistério do amor de Deus que se cumpriu
em Cristo e que o divino Espírito leva à plenitude na história humana.
Apesar de tantas
contradições, sofrimentos, crises etc. os cristãos sabem – fundamentados na fé
e nas promessas de Jesus – que a história humana não caminha para o abismo do
nada, mas rumo à realização do Reino. A mensagem deste último domingo nos estimula
para renovarmos a esperança sabendo que, pela atuação de Cristo –“primogênito
dentre os mortos” - o Pai “nos libertou do poder das trevas e nos recebeu nos reino
de seu Filho amado” – e vai “reconciliar consigo todos os seres” (II leitura). Assim, a humanidade toda
reconhecerá Cristo como Salvador.
Na realização do
reinado de Deus sobre a terra podemos marcar três momentos: a) o da
prefiguração, b) o já-presente e c) o ‘não-ainda’ em plenitude.
a)
A primeira leitura fala da prefiguração da realeza de Deus. O
Senhor que se revela ao povo de Israel quer que o seu povo faça a diferença entre todos os povos da terra. Por isso,
Ele mesmo – Deus – quer ser o Rei do seu povo. A Davi – escolhido como rei de
Israel, depois da experiência decepcionante de Saul – Deus diz: “Tu apascentará
o meu povo Israel e será seu chefe”.
Escolhido pelo consentimento dos chefes do povo, Deus confirma Davi, mas tendo
em vista outro Rei, que Deus enviará para que reine em eterno. Acontece com
Davi uma aliança, marcada pela unção:
(os anciãos de Israel) “ungiram Davi rei de Israel”. Esta unção prefigura aquela do verdadeiro e
definitivo Ungido do Senhor (Cristo
significa Ungido!), sobre o qual
repousa o Espírito de Deus.
b)
O Evangelho destaca, com muitos
detalhes, a realeza de Cristo já presente, também se de forma
totalmente desconcertante ao nosso olhar humano. Jesus, que ao longo de sua
vida tinha sempre recusado o título de rei, agora, na cruz – quando já não é
mais possível confusão alguma, aceita-o: “acima dele havia um letreiro: ‘Este é
o rei dos judeus’; clara expressão de burla no entender dos chefes do povo, o
evangelista, invés, vê a revelação plena
da verdadeira realeza do Ungido de Deus. Eis que um dos ladrões consegue
enxergar – muito além das aparências – o sentido dessa realeza que expande seus
benefícios sobre ele: “Ainda hoje estarás comigo no Paraíso”. Jesus é rei de
reconciliação, de paz e perdão, e, mediante sua morte, derruba toda expressão
de ódio e vingança e planta a semente da verdadeira paz ‘em seu sangue’ A
realeza de Jesus se exerce não através da força e prepotência, mas por meio do
dom-de-si, do serviço e da morte-por-amor. Com sua morte reconciliou a
humanidade, quebrando a espiral do ódio e da vingança, e fazendo brotar uma
nova humanidade que alimenta a esperança e a possibilidade de um futuro
diferente.
Para
nós, que nos declaramos seguidores de Cristo, é nos dado um claro ensinamento:
só pelo mesmo caminho do serviço, da solidariedade e do amor sincero e
profundo, poderemos alcançar a plenitude da vida, tornando-nos homens e
mulheres construtores da mesma paz de Cristo (‘eu vou dou a minha paz, não como a dá o mundo’). Na
Igreja deve ficar claro que o ministério
da autoridade é dado não para a autoafirmação pessoal, mas em vista da unidade e
caridade. Jesus o repete com extrema clareza, tantas vezes (talvez conhecesse
bem a dureza de mente e de coração dos ‘seus’, isto é, de nós!!).
c)
O reinado de Jesus, porém ainda não
se realizou em plenitude. Alcançará seu ponto conclusivo somente quando “Cristo
será tudo em todos” (cf. 1 Cor 15,24.28).
Então, sim, realizar-se-á o Reino “eterno e universal: reino da verdade
e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do amor e da paz”
(prefácio). Ele – Jesus - “é a Cabeça do Corpo, isto é, da Igreja” (II leitura), Igreja ‘sacramento de Cristo’, isto é, seu ‘sinal e instrumento’ para a realização do
projeto de amor do Pai, seguindo as pegadas de Jesus, colocando-se no mundo em
atitude de serviço por amor, mantendo viva a semente da esperança, da paz e do perdão,
sem cansar e sem marcar datas e horas de quando tudo o que foi prometido se
realizará; continuando a proclamar e testemunhar a realeza de Cristo, não permitindo que ‘durmamos como os que não têm
esperança’. Esta a fé que precisamos acender e reacender, com coragem e
constantemente, ao fogo do divino Espirito.
Dom Armando