Ex
20, 1-17
Sl
18
1Cor
1, 22-25
Jo 2, 13-25
Caríssimos irmãos e irmãs. Neste tempo
santo da Quaresma, “tempo favorável, dia da salvação” (2Cor 6,2), acheguemo-nos
a Jesus Cristo, nosso Salvador, com afinco e corajosamente. Ouçamos o que ele
diz. Suas palavras são de vida eterna (Sl 18). Submetamo-nos à sua lei, que
nada mais é que um pacto de amor, consequentemente, de liberdade plena. Ele é o
Filho amado, revelado pela voz do Pai em sua transfiguração, evangelho do domingo
passado.
Nele
tudo se renova. Neste terceiro domingo quaresmal, ele nos é apresentado como o
“novo templo”, no qual se é possível adorar ao Pai em espírito e verdade (cf.
Jo 4,24): Jesus é o homem do “zelo devorador pela casa do Senhor” (cf. Jo
2,17). Não permite que a casa de Deus mude de função, por isso expulsa os
vendilhões do templo. Ele mostra o sinal que os judeus pedem: “Destruí este
Templo, e em três dias eu o levantarei” (Jo 2,19). As estruturas cultuais judaicas
estavam obsoletas, corrompidas. Perderam-se no legalismo, na burocracia e na
exploração. O culto agora deve ser em Cristo, no seu corpo. Onde está o Cristo
ressuscitado, está a comunidade, a liturgia, a fé. Onde está o Cristo
ressuscitado, não cabem cerimônias vazias. Onde Cristo reina, a liturgia
envolve toda a vida, repercutindo-se abundantemente em amor.
O
amor é o resumo da lei mosaica, cuja promulgação é descrita na primeira
leitura. O “código da aliança” é uma proposta amorosa de Deus que liberta seu
povo da escravidão do Egito; o amor manifesto em Jesus, Filho amado do Pai, é a
proposta amorosa de Deus que liberta a nós, que somos o seu povo, da escravidão
do pecado. A esta última não podem ficar submetidos os que foram salvos pela
“loucura” da cruz (2ª leitura): “escândalo para os judeus, insensatez para os
pagãos, porém, para os que são chamados, poder de Deus e sabedoria de Deus”
(1Cor 1,23-24).
Encaremos
os preceitos da quaresma como oportunidade de crescimento em caridade e não
como práticas impositivas e vazias. Arrisquemo-nos, ancorados em Cristo, a
assumir integralmente em nossas vidas algumas “loucuras”: a loucura de preferir
os outros a si; a loucura da luta pela justiça, a loucura do perdão sem
limites, a loucura de perdermos nossas próprias seguranças e status, a loucura da
doação e da gratuidade. Acusar-nos-ão muitas vezes de insensatos e fracos, mas
“o que é dito insensatez de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é dito
fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” (1Cor 1, 25).