A gênese da filosofia é marcada pelo espanto do homem diante da
realidade. Esse susto, que a princípio busca compreender a origem de toda
existência que o cerca, na procura da
arqué fundante de tudo, é o germe inicial das investigações que se fará daí por diante.
Nesse contexto, em que a physis
é uma preocupação, Heráclito de Éfeso, sabiamente, afirma; “tenho-me
investigado a mim mesmo”. Essa afirmação é como presságio da grande mudança de
foco, à qual a Filosofia estará sujeita.
Sócrates, inspirado pelo muro de Delfos, entende que o Homem deve
ocupar-se de “conhecer-se a si mesmo”, de modo que, a explicação da realidade, que habita ainda uma esfera cosmocêntrica, passa a perceber o próprio homem
como possível sujeito de todas as respostas. Assim, o ateniense avança no
processo de abandono dos mitos como explicação ao passo que busca dentro do
próprio ser a verdade.
Platão desenvolve um pensamento no qual dá ao homem certa liberdade,
visto que ele é, de fato, uma ideia perfeita que foi aprisionada numa cela
(corpo), mas da qual pode escapar por via do conhecimento; assim, a construção
da sabedora é modo de quebrar as correntes e voltar ao mundo da luz, da
perfeição. Dessa forma, é criado um dualismo, no qual o corpo existe em
detrimento da alma, que está presa. O Homem, que é ideia, é enganado pelos
sentidos e busca livrar-se deles, do corpo, para restabelecer-se plenamente.
Em Aristóteles, encontramos a refutação ao dualismo criado por Platão. A
teoria Hilemórfica é parte do pensamento aristotélico a qual se refere a
“constituição” do ser, que é forma (alma) e matéria (corpo) que são
co-princípios formadores da substância; esta, ora unida aos acidentes
(particularidade) forma a essência que junto a existência é que, de fato, da
realidade ao ente. Esta teoria aristotélica limita o homem; por mais que aceite
as condições que este ser tem de dedicar-se às atividades teorética, através da
qual ele encontra eudaimonia, tiram do
ser a possibilidade de esperança além-morte.
Através de uma releitura do pensamento platônico, Plotino reflete
aceitando o dualismo corpo-alma, de modo
que a alma tem a possibilidade de ser
liberta e, num encontro consigo mesma, caminhar rumo ao que este filósofo chama
de Absoluto.
Aqui, podemos perceber que estas ideias já não estão em conformidade com
o pensamento antropológico atual, porém, foram responsáveis pelo levante de
quatro questões fundamentais a que se chegasse ao pensamento de hoje, sendo
elas: o problema da questão humana; o problema da substancialidade da alma;
problema da relação corpo-alma e problema da imortalidade.
Estas questões são essenciais para o desenvolvimento da Filosofia, que
implica o próprio surgimento do que, depois da modernidade, entendemos por
Antropologia filosófica. Os pensadores subsequentes farão a releitura, reflexão
e ampliação destas ideias, que aqui têm os seus alicerces fundamentais.
Kleber Chaves
1º Filosofia