LEITURAS:
2Sm 5,1-3
Salmo 121 (122)
Cl 1,12-20
Lc 23,35-43
Finalizando o
percurso do ano litúrgico, celebramos Jesus Cristo, neste domingo, com o título
de Rei do Universo. Ao chamar Jesus de “rei”, podemos pensá-lo como um
soberano, alguém que vem para mandar, julgar e punir. Curiosamente, é
justamente essa imagem que aparece em nossa mente, na internet e em outras
fontes: um Jesus de manto, de coroa, sentado num trono e que parece impor seu
poder e autoridade. Bem outro é o significado do reinado de Cristo!
A leitura do
Antigo Testamento mostra o que é ser Rei a partir da figura do rei Davi. Ser rei
não é dominar, não é impor, não é explorar. Ao contrário, significa cuidar,
proteger, amparar. Por isso, a imagem do rei no Antigo Testamento é sempre
comparada à do pastor: ser rei é ser
pastor de um povo. A aliança que os anciãos povo fazem com Davi expressa
bem essa ideia de que o rei é colocado à frente para cuidar e conduzir um povo.
É nesse sentido que Jesus é rei. Ele
não é um soberano que vem impor a sua vontade pela força, pela violência. Mas é
o escolhido de Deus que se põe à frente do Povo para conduzi-lo e liberta-lo,
para dar-lhe a verdadeira vida. É por isso que, ao celebrar Cristo Rei, ouvimos
o texto da crucificação de Jesus. A cruz
é maior sinal do reinado de Cristo. Não porque ele se apresenta glorioso ou
poderoso, mas porque se apresenta servidor da multidão. No evangelho lido, por
três vezes Jesus é tentado a usar seu privilégio de Filho de Deus para descer
da Cruz: “se és Filho de Deus salva-te” – dizem. Cristo, porém, não cede às
provocações. Não foge da Cruz, pois veio ao mundo para dar a vida pela
humanidade. É nesse momento que ele é
verdadeiramente rei, verdadeiramente pastor: dá a vida para salvar os seus;
entrega-se ao sofrimento para que todos tenham a vida.
O hino da
carta aos Colossenses engrandece a pessoa de Cristo justamente por essa sua
atitude. Cristo é aquele que exerceu o seu poder de Filho de Deus em prol da
humanidade e não em favor de si mesmo. Ele, que estava em plena comunhão com
Deus, morreu na Cruz para que a humanidade fosse redimida, ou seja, voltasse à
união com Deus, que havia sido ferida pelo pecado.
Todos nós, agora, somos chamados a
participar desse reinado de Cristo. Não um reinado de poder, de dominação ou de
violência. Mas o reinado do serviço! Jesus nos mostra que é esse o caminho.
O que importa não é a aparência da glória, do sucesso e do poder difundida na
sociedade. Mas sim as atitudes de caridade e de serviço. Para muitos, a cruz
significou o fracasso de Cristo e a vitória do mal. Mas é o contrário: na cruz,
o mal foi profundamente derrotado pela grande atitude de amor de Cristo.
Assim também é
nos dias de hoje. Aqueles que são hoje considerados como vencedores, como
pessoas de sucesso, muitas vezes são pessoas vazias, escravas do próprio
egoísmo, que não conseguiram sair de si e pensar no outro. Pessoas
competitivas, individualistas que não foram capazes de um gesto de amor que
liberta e dá verdadeira dignidade ao homem. Ao passo que, muitas pessoas consideradas
em nossa cultura como fracassadas experimentam, no amor e no serviço, o
verdadeiro sentido de viver.
Como
comunidade de fé, participantes do reinado de Cristo, precisamos traduzir cada
vez melhor, em nossas vidas, a lógica do amor e do serviço. Por muitas vezes,
somos tentados a descer da nossa cruz e, ao invés de fazer um serviço aos
outros, beneficiarmos apenas a nós próprios. Sejamos fortes e corajosos para adentrarmos
nessa nova mentalidade, libertando-nos do nosso egoísmo. Façamos de Jesus nosso
modelo. Cristo é rei não porque atraiu gloria e poder para si, mas porque viveu
em prol dos outros. Fazendo parte do seu reinado, queiramos também nós, com
alegria, assumir o caminho da caridade, do serviço, abrindo mão de nossos
caprichos e vontades individualistas.
Jandir Silva