A PALAVRA DE DEUS, FUNDAMENTO DA AÇÃO LITÚRGICA

Hoje continuamos refletir com o assunto “a Palavra de Deus na Liturgia”. Destaquei já a necessidade de ter, diante da Palavra, uma atitude de escuta. Escutar é importante em toda conversa. Mas, quando os cristãos se reúnem para celebrar a liturgia–da Palavra ou, sobretudo, da Eucaristia - eis que a escuta, da mente e do coração, deve ser de intensa e amorosa atenção.
Nas Premissas ao Ordenamento das Leituras da Missa (OLM), n. 4, lemos: “A Palavra de Deus, constantemente anunciada na liturgia, é sempre viva e eficaz (cf. Hb 4,12) pela potência do Espírito Santo, e manifesta aquele amor incessante do Pai que nunca cessa de operar para com todos os humanos.” O papa Bento XVI, na Exortação Apostólica Verbum Domini, quando fala da Liturgia sagrada escreve que ela é “o âmbito privilegiado onde Deus nos fala no momento presente da nossa vida” (n. 52).E, logo em seguida, lembra o documento sobre liturgia do Vaticano II - Sacrosanctum Concilium– onde, a respeito do nosso tema,afirma-se:
“É enorme a importância da Sagrada Escritura na celebração da Liturgia. Porque é a ela que se vão buscar as leituras que se explicam na homilia e os salmos para cantar... Para promover a reforma, o progresso e adaptação da sagrada Liturgia, é necessário, por conseguinte, desenvolver aquele amor suave e vivo da Sagrada Escritura de que dá testemunho a venerável tradição dos ritos tanto orientais como ocidentais” (n. 24).
O papa recorda, ainda, SC7: “Cristo está presente na sua Palavra, pois é Ele que fala ao ser lida na Igreja a Sagrada Escritura”. Na mesma Exortação se enfatiza a “ação do Espírito Santo”: é Ele que “sugere a cada um, no íntimo do coração, tudo aquilo que, na proclamação da Palavra de Deus, é dito para a assembleia inteira dos fiéis” (OLM, 9).
Alguém, talvez, vai perguntando: “Será que acontece assim mesmo? Será que é tão fácil entender o que a Palavra nos diz hoje?” Fácil não é! Tantas vezes as palavras voam, e também a Palavra. Basta fazer um teste às portas da Igreja, na saída de uma celebração, e perguntar: “O que se lembra do Evangelho que foi proclamado”? E das leituras? (poderíamos continuar procurando o que disse o padre na homilia...). Talvez, constatemos que resta pouco do que a Palavra anunciou! É preciso, portanto, prestar bastante atenção, e se dispor, espiritualmente, lendo antes, se possível, o que dirá a Palavra proclamada no domingo seguinte. Os discípulos do Senhor devem criar em si mesmos um espaço interior, aberto e disponível, para escutar o que o Senhor vai dizer.
Grande valor tem, também, a homilia, qual explicação e atualização da Palavra. Essa deve fazer com que seja a Palavra de Deus que fale, evitando palavras para emocionar ou, ainda mais, ameaças ou proibições. A Palavra conforta, estimula, corrige, aquece, fortifica, aponta novos caminhos, ajuda a olhar para dentro de si, coloca em nosso coração palavras com que podemos entrar em diálogo com o Pai, no Espírito.
Papa Bento XVI na citada Exortação Apostólica Verbum Domini escreve estas bonitas palavras: “Exorto os Pastores da Igreja e os agentes pastorais a fazer com que todos os fiéis sejam educados para saborear o sentido profundo da Palavra de Deus que está distribuída ao longo do ano na liturgia” (VD 52). Esse deve ser nosso compromisso e empenho.
Dom Armando Bucciol